segunda-feira, julho 24, 2006

BAIRRO SOCIAL - ESTIGMA MARGINAL













Vale de Chícharos - Jamaica, "para além do PER", para aqém da felicidade impossivel, no cartaz promete a Câmara (2005) 87 fogos...por construir no local...


Relembra-se as ultimas ( e quase únicas) declarações publicas do presidente da Câmara do Seixal, Alfredo Monteiro sobre a Flôr da Mata e a sua relação directa com Vale de Chícharos. Em declarações ao Site Setubal na R
ede (Out 2001) :

"Então porque é que a população protestou contra o projecto da Flor da Mata?

Alfredo Monteiro - Não tenho dúvidas que o processo foi muito positivo. E esta é a diferença da CDU: damos a cara. Reunimos com as instituições locais, as colectividades, a paróquia e a associação de moradores, ouvimos as pessoas e ajustámos o plano. Reduzimos o número de fogos para 198, não é apenas PER mas também habitação social para compra, particularmente para jovens casais. E já não vamos precisar daquele PER todo. Sempre apostámos no PER famílias e foi muito bem sucedido. Isso significa que as pessoas são realojadas individualmente, ou seja, adquirem casa em qualquer sítio do concelho. Com a Cucena, a Flor da Mata, e o plano de realojamento em Santa Marta de Corroios, vamos dar por completo o plano de realojamento do concelho. Por outro lado, a Flor da Mata vai ser importante porque temos uma situação em Vale de Chícharos que vai para além do PER. Vamos ter ali um programa de realojamento próprio e a Flor da Mata vai também servir para integrar esse programa. Mas quando se fala em planos de realojamento é preciso dizer que não fazemos guetos, pois o maior, que é o da Flor da Mata, vai ter 198 fogos.
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E sobre os Bairros Sociais relembra-se aqui o artigo de Fernanda Câncio "Os Bairros da felicidade impossivel", agrace-se a quem aqui ontem trouxe ambos textos , este e a entrevista de Alfredo Monteiro sob a forma de comentário, por ser oportuno optámos pela sua inclusão, fica também a questão: Alfredo Monteiro atropela a verdade?
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oto Picapau-Amarelo

"As políticas de realojamento conduziram ao gueto? A casa nova, de que se reclamou incessantemente o direito adquirido, não é afinal a "sua" casa, mas aquela que uma sociedade sem rosto entrega em penhor de uma qualquer "culpa". Uma esmola que ao invés de colmatar a exclusão a confirma. Uma desculpa, boa ou má



Mas este bairro de prédios de cinco e seis andares construído nos anos 80, com a sua escola e o seu salão de jogos e os seus graffiti e arredores de quintas abandonadas à espera de loteamento, a três ou quatro paragens de autocarro de um centro, de uma cidade qualquer, não é exactamente o postal da degradação.

Antes se parece com tantos outros "empreendimentos" ditos urbanísticos erguidos nas últimas três décadas nos arredores de Lisboa e Porto, de arquitecturas quase sempre insalubres e "equipamentos" quase sempre reduzidos ou inexistentes. E sem aquilo a que a socióloga Maria João Freitas, da direcção do Instituto Nacional da Habitação , chama a "cosedura territorial com o existente" - a co
nexão com o território urbano consolidado, qualificado, prestigiado.

Porque será então que quando se fala em "guetos" e "degradação urbana" se pensa nos chamados bairros de realojamento ou de "habitação social"? Se, como parece óbvio e Freitas faz questão de frisar, não existe no País, devido à proverbial deficiência de ordenamento e planeamento urbanístico, "grande diferença entre o desenho e a localização dos bairros sociais e os dos outros", porque será que a essa má imagem, exterior e interior, se colou só aos bairros ditos sociais, num processo de estigmatização que, frisa a socióloga, "lhes reforça a marginalização"?


Um estigma que, como o antropólogo José Cavaleiro Rodrigues escreve em As lógicas sociais dos processos de realojamento (revista Comunidades e Territórios, 2003), passa muito pela avaliação dos próprios. Sentindo-se "roubados" da nova identidade social sonhada, desenvolvem um "processo acusatório" em relação aos vizinhos. A "sociabilidade e a solidariedade iniciais do bairro de barracas" são substituídas pela "generalização de formas de interacção negativas".

É o "gosto pela casa e o desgosto pelo bairro" (mais uma síntese feliz de Guerra), que se dá a ver na destruição, pelos mais jovens, de tudo o que possa ser destruído nesse lugar maldito, das caixas de correio aos candeeiros e aos parques infantis. Uma automutilação que reforça o estigma, num paradoxo que Maria João Freitas lê como uma forma de comunicar "abandono e desagrado".







foto Quinta da Princesa - Seixal


Como quem diz olhem para o nojo de bairro em que vivemos. Olhem para o nojo que nos deram. Como é que podemos querer viver aqui? Como poderemos ser aqui felizes?
"Diz-se que 'destroem aquilo que é seu'", conclui Freitas. "Mas se calhar não sentem aquilo como seu".

A casa nova, de que se reclamou incessantemente o direito adquirido, não é afinal a "sua" casa, mas aquela que uma sociedade sem rosto entrega como penhor de uma qualquer "culpa". Uma esmola que ao invés de colmatar a exclusão a confirma."
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Alerta para os níveis de O3 - OZONO preocupantes para hoje, veja aqui.

11 comentários:

Anónimo disse...

Como podem ser felizes as pessoas depois de deportadas? Esta mentalidade hipócrita da sociedade de dar uma cazinha para acaber com as barracas que envergonha a tal sociedade, depois põem essas pessoas todas em caixotes, isso quer dizer:

- Isto é o bairro dos que viviam nas barracas.

- Ou no casa do Seixal, isto é o Bairro dos que viviam em Vale de Xixaros.

- Eu presidente de Câmara estou a fazer o bem e a das uma chave antes das eleições...Vota em Mim...

- Eu construtor civil, vi-me livre daquele terreno que comprei através de uma sociedade off-shore, já fiz negócio, porque a Câmara vai-me comprar os apartamentos todos, é negócio garantido...

- Eu cidadão que vou para ali viver sei que estou a ser manipulado, sei que estou a ser utilizado, sei que vou ser apontado pelo resto da sociedade, sei que aquele é o sitio que a sociedade determina para mim que sou de côr, que sou pobre, que sou excluido...e revolto-me...

Anónimo disse...

Esta foi uma formula herdada do Fascismo com os Bairros da FUNDAÇÃO SALAZAR, com alojamento em massa na Margem Sul no chamado então Laranjeiro de Fora, as quintas entre o Laranjeiro e o que viria a ser o Miratejo.

Tudo o mais que se diga é baralhar e dar de novo, aplicando a mesma fórmula, primeiro aos Alentejanos e Beirões que vieram trabalhar para a Siderurgia, para a Lisnave, para o Arsenal...

Agora para os Emigrantes de Leste, para os Ciganos, para os de origem Africana, se houvesse Magrebinos como em França ou Espanha, a fóemula seria a mesma... integração? O que é isso... morar nas cidades junto aos outros, a todos os outros ? É direito que não lhes assiste, damos-lhes casa, não façam barracas, mas vão é para GUETOS longe de tudo e todos juntinho por àrea geográfica...

Anónimo disse...

o PER está longe de poder resolver, por si só, o conjunto dos fenómenos associados à complexa problemática das carências habitacionais, na medida em que se trata de um Programa que não prevê uma intervenção contínua e integrada capaz de assegurar, para além de uma casa, a melhoria das condições objectivas de existência de populações fortemente descapitalizadas como são as que habitam os empreendimentos de que falamos.

Quando nos referimos à problemática da habitação social não nos referimos unicamente ao processo de atribuir uma casa, mas antes à ausência de um plano integrado de acções capazes de garantir às populações mais desfavorecidas os meios para uma efectiva integração no tecido comunitário e para a aquisição de sentimentos positivos acerca do seu valor na escala do prestígio social.

Anónimo disse...

A Câmara tem há muitos anos um instrumento de trabalho, um ónus que recai sobre todas as urbanizações feitas no concelho e que afecta 20% dos fogos de cada urbanização para rendas condicionadas. Ou então, pode decidir transformar isso em dinheiro e aplicá-lo na solução dos problemas de realojamento. Isso devia ter sido feito ao longo destes quatro anos, mas o facto é que não o foi.

Anónimo disse...

Acabei de ler o Noticias do Seixal e acho que os autarcas andam a gozar com o Povo recomendo a leitura pelo Ponto Verde deste atentado à inteligência da população em que o autarca responsável põe em causa o abaixo assinado que eu e mais 1500 assinaram, diz que devia ter as moradas. Onde é que isso já se viu? Quer também a côr da pele, e a orientação sexual? Estes tipos são FACHISTAS com pele de Comunas.E como se vê por o que o Presidente disse são também mentirosos.

Anónimo disse...

Atrás está a declaração do actual deputado à AR pelo PSD, Luis Roderigues "A Câmara tem há muitos anos um instrumento de trabalho, um ónus que recai sobre todas as urbanizações feitas no concelho e que afecta 20% dos fogos de cada urbanização para rendas condicionadas. Ou então, pode decidir transformar isso em dinheiro"

ONDE ESTÁ ESSE DINHEIRO???

Anónimo disse...

Mais um gueto? No século XXI? Mas é possível?

Anónimo disse...

Podemos concluir que a CDU Seixal tem uma forma de fazer política que é própria e local.

Pelo exemplo da Flôr da Mata, de verde nada tem. Destruir mais uma mata para massificar betão é normal.

Realizar uma política social integradora, também não é opção.

Reflectir com os moradores e políticos para encontrar a forma mais adequada de resolução do problema do alojamento, também não interessa.

Ajudar as famílias carentes para o acesso à habitação, no mercado normal, sem passar por bairros, também não se preocupam.

Evitar a marginalização territorial, também não se vislumbra.

Requalificar o parque habitacional, cuja tendência é para a degradação, também não se projecta.

Temos pelo Seixal uma CDU a contribuir para o aprofundamento da divisão de classes. Será esta a estratégia?

Anónimo disse...

Já propusemos ao CC do PCP, uma reciclagem mental aos camaradas do Seixal para se evitar mais um crime ambiental e social.

Anónimo disse...

Fomos nós que fizemos algumas das construções PER de Valongo...não é curioso?

Anónimo disse...

Nem quero acreditar que seja a Betobeja a construir o bairro no Seixal.

Em Valongo a CDU critica.
No Seixal a CDU manda construir.

Que Deus nos acuda