quinta-feira, março 15, 2007

SIMPLEX AMBIENTAL , PRECISA-SE



Estes são alguns excertos de uma entrevista dada pelo Eng. Carlos Pimenta a Clara Pinto Correia no blogue VIRIDARIUM, onde pode ser lida no local original e na íntegra aqui (clique) , passo a citar:

(...) Quando falas de energias renováveis que toda a gente em Portugal pode usar se quiser, estás a pensar exactamente em quê?

Em coisas tão simples como instalar em casas paredes que absorvem o calor durante o dia e o libertam à noite, ou em forros de cortiça. Ou no biogaz dos aterros sanitários, ou nos sistemas fotovoltaicos. Nas condutas de água de rega podem instalar-se micro-turbinas dentro dos canos. É ridículo, o que nós não fazemos.

Desperdiçamos tudo, até a energia solar, até a matéria orgânica que, à falta de outra iniciativa, é atirada para as ribeiras em quantidades gigantescas, e ainda tem o problema de poluir
a água. Temos complexo de país rico, e ainda por cima nenhum país rico faz isto – e, por isso mesmo, é que é rico. (...) Sessenta por cento da electricidade consumida no país é desperdiçada nos edifícios.

Uma casa de habituação não precisa de ter ar condicionado. Se estiver bem isolada, não precisa mesmo.
Sabes que cinquenta por cento da energia que se consome se perde através do telhado? Basta um bom isolamento do telhado, que até podemos fazer p
or nós próprios com rolhas usadas, e isso acaba-se. Depois é importante instalar janelas de vidro duplo com vácuo no meio. Digo-te uma coisa: este escritório não tem aquecimento nem ventilação. E estamos bem, não estamos?


Além disso, podemos sempre instalar paineis solares para o aquecimento da água, com a quantidade
de horas de sol que cá temos: fazes um investimento inicial de 3500 a 5000 Euros, que podes pagar em sete anos, o teu duche passa a ser de graça e reduzes substancialmente as despesas para a aquecer a água nas máquinas. E isto dura-te vinte ou 25 anos.

Estás a ver, nem precisas de querer salvar o planeta para fazeres estas opções: basta-te quereres reduzir as tuas despesas energéticas.

(...)..a nossa legislação fiscal só mete água. Repara neste disparate. Compras uma casa. Queres isolá-la toda muito bem? Pagas 21% de IVA. Queres instalar uma boa caldeira de gaz natural? Pagas 12% de IVA. Continuas a gastar recursos e a contaminar o ambiente, e limitas-te a eleftrificar tudo? Pois bem, só pagas 5% de IVA!

O melhor sistema de consumo é o mais penalizado. Faz algum sentid
o? Premeia-se a forma mais parva de aquecer ou refrescar a casa, que tem que ser queimada termicamente no Carregado ou tirada do carvão em Sines, depois perde 11% nas linhas eléctricas, perde ainda mais com os equipamentos de conversão da electricidade, e acaba por só ter 25 ou 20% da eficiência original. São grandes erros, que desmotivam as pessoas, claro.



(...)Então fala-me de outras coisas simples que podemo
s fazer.

Podemos arrancar todas as lâmpadas convencionais, que só dão vinte por cento de luz e os restantes oitenta por cento são calor. E as de halogéneo ainda são piores. Em vez disso, instalamos lâmpadas económicas, daquelas fluorescentes pequeninas que há no Aki, no Jumbo, em qualquer grande superfície. Estas lâmpadas têm cinco vezes mais potência que as outras fontes de luz, e agora apareceram outras que nem sequer têm gasto de energia. Não é melhor para toda a gente?


(
...)Também passamos pelo mesmo com os automóveis.


Podemos sempre comprar um Smart. Ou então um híbrido, que é a melhor solução. Arranca-se com o motor eléctrico, e basta um sinal vermelho para o motor se desligar. Um motor normal está sempre a funcionar, mas estes só funcionam quando é mesmo preciso. Também se desligam nas descidas. Mesmo que não estejas a querer evitar o aquecimento global, sentes os resultados na carteira. É de tal maneira que as grandes empresas que não quiseram saber dos híbridos, como a Ford ou a General Motors, hoje estão falidas; enquanto que a Toyota, que investiu nisto a fundo, é a marca com maiores vendas e tem toda a gente na lista de espera para comprar um híbrido.

(...) O nosso sistema de deslocações é suicida. Parece que os governos portugueses não conseguem gerir sistemas grandes e complexos. Deixam o caminho de ferro ao abandono a acumular centenas de milhões de Euros em dívida
s, descuram os portos e aeroportos, e apresentam uma oferta péssima à população.


Também não temos comboio para atravessar a ponte Vasco da Gama, que já foi construída quando todas essas coisas estavam mais que estudadas.
Bem essa foi uma daquelas guerras que eu perdi e não posso perdoar a mim próprio. Fazer a ponte naquele sítio, antes de mais nada, implicou a destruição dos soberbos terrenos agrícolas do Montijo e de Alcochete.

Foi dar carne do lombo à construção civil, enquanto que, no Barreiro, temos centenas de hectares contaminados mas que fazem parte de uma frente de rio magnífica, com uma vista linda para Lisboa.
Ainda por cima, a Vasco da Gama, feita de raiz recentemente, não tem comboio; e, na 25 de Abril, só devia passar o metro. Não pode lá passar um TGV, por exemplo. Mas isso seria possível se se tivesse feito a tal ponte no Barreiro. Ficavam todas as linhas ligadas, aéreas e subterrâneas, o metro juntava-se ao comboio, desapareciam as barreiras físicas entre o Norte e o Sul, era perfeito para os nossos problemas de mobilidade.

Além de que se poderia ter construído uma cidade fantástica, aberta para a margem, onde o terreno não sustenta agricultura, em vez de encher de caixotes de habitação os solos magníficos onde desagua a Vasco da Gama. Resultado:


Portugal tem um dos PIBs mais baixos da União Europeia e está entre os cinco países com mais automóveis particulares por habitante! Isto, além de afectar a qualidade de vida das pessoas, encharca o ambiente em dióxido de Carbono.
Sabes que Portugal está completamente em falta em relação aos acordos de Kyoto? Ninguém gosta de dizer isto, mas, em termos de impacto global do nosso comportamento pessoal, estamos a portar-nos tão mal como os americanos.

O ar da Avenida da Liberdade, apesar do vento marítim
o que vem da Serra de Sintra, é o mais poluído da Europa!

Então vamos já ao que aqui nos trouxe: tu achas que é por causa do aquecimento global que o nível do mar está a subir e a Caparica e o Algarve estão a desaparecer?

E isso também vai acontecer na Ria de Aveiro. Em relação à Caparica, que é neste momento o exemplo mais dramático dessas consequências de má gestão humana da paisagem e do ambiente, nunca se deveria ter destruído o banco de areia que, até há cerca de trinta, quarenta anos, sempre ligou o Bugio à Cova do Vapor. Fazia-se aquele caminho todo a pé, lembras-te? Destruiu-se o equilíbrio das areias, que costumavam ser empurradas todos os a
nos para aquela zona. Por outro lado, a construção mesmo em cima das arrribas fez aumentar dramaticamente o nível de erosão.

E, por cima de isto tudo, de facto, temos a subida global do nível do mar por causa de todo o gelo que está a derreter nos pólos, em consequência do aquecimento da atmosfera causada por acumulação de dióxido de Carbono libertado pela actividade humana.
Essa parte, claro, não afecta só a Caparica. Todos sabemos que isto está hoje em curso em todo o planeta, e que está a ser terrivelmente rápido.


Tu vais à Gronelândia e vês a linha de recessão de glaciares, e olha que não são centímetro
s, são metros e metros de gelo que desaparecem todos os anos. Os ursos polares, que não tinham quaisquer problemas de sobrevivência, estão hoje ameaçados de extinção porque as placas de gelo no Ártico estão a ficar tão finas que se partem quando eles tentam subir para cima delas – e, depois de horas e horas sem conseguirem pisar terra firme, morrem afogados.

Se isto continuar a evoluir no mesmo sentido, se não fizermos nada, vamos ter consequências terrív
eis ainda dentro da nossa expectativa de vida, dentro de vinte ou 25 anos.

E o que me desespera mais é que já desde 1991 que se sabe isto tudo! Nessa altura o Al Gore já tinha exactamente os mesmos slides que agora mostra no filme. A primeira reacção política internacional foi que não havia a certeza de que isto estava a ser causado pelo homem, depois que não se tinha a certeza que era do dióxido de Carbono, depois que não podiam por-se travões aos países em desenvolvimento como a Índia ou a China...

É exasperante. Espero que, em Portugal, toda a gente tenha finalmente acordado com esta tragédia da nossa costa.

2 comentários:

Anónimo disse...

Será que Sócrates perdeu a sensibilidade ambiental? É que muitas opções de consumo, e hoje é o dia do consumidosr, são também opções fiscais do Estado.

O estado tem que penalizar menos os produtos ambientalmente correctos e menos poluidores!

Anónimo disse...

Vivam
Chamo-me Jorge Amaral escrevi-me algumas muitas vezes com o amigo Egrº Carlos Pimenta a questionar sobre as mais diversas questões ambientais. Sou fã da Clara Pinto Correia leio os seus trabalhos como bióloga.
Devo dizer que apraz-me haver consciências alertadas, mas isso não faz as massas, certo?
vejam por isso e digam-me alguma coisa: www.amigosdomardegaia.blogspot.com O aquecimento Global foi matéria desde 91 e tenho feito um esforço para passar a palavra!...
Obrigado e parabéns pelo blog