sábado, maio 16, 2009

HABITAÇÃO SOCIAL , DA AUTOCONSTRUÇÃO À CORRUPÇÃO (2)



A Aldeia da Meia Praia em Lagos foi também ela uma operação SAAL tornada famosa por uma canção de José Afonso , a "canção da autoconstrução" .

Hoje a "canção é a da chave na mão" , paga paternalisticamente por todos nós , com o orçamento mínimo fraudulento ou o subsídio de desemprego forjado ...

A filosofia base do SAAL era construír habitação condigna, não nas periferias , criando guetos , mas nos próprios locais onde as pessoas viviam e estavam integradas. Era envolver as populações no esforço social de construção criando importantíssimos laços afectivos às habitações.

Aldeia da Meia-Praia
Ali mesmo ao pé de Lagos
Vou fazer-te uma cantiga
Da melhor que sei e faço
(...)

Oh mar que tanto forcejas
Pescador de peixe ingrato
Trabalhaste noite e dia
Para ganhares um pataco
(...)
Quem aqui vier morar
Nao traga mesa nem cama
Com sete palmos de terra
Se constrói uma cabana
(...)
Tu trabalhas todo o ano
Na lota deixam-te mudo
Chupam-te até ao tutano
Chupam-te o couro cab'ludo
(...)
Diz o amigo no aperto
Pouco ganho, muita léria
Hei-de fazer uma casa
Feita de pau e de pedra
(...)
Oito mil horas contadas
Laboraram a preceito
Até que veio o primeiro
Documento autenticado

Veio um cheque pelo correio
E alguns pedreiros amigos
Disse o pescador consigo
Só quem trabalha é honrado

Quem aqui vier morar
Nao traga mesa nem cama
Com sete palmos de terra
Se constrói uma cabana

Eram mulheres e crianças
Cada um c'o seu tijolo
"Isto aqui era uma orquestra"
Quem diz o contrário é tolo

E toda a gente interessada
Colabarou a preceito
- Vamos trabalhar a eito
Dizia a rapaziada

Nao basta pregar um prego
Para ter um bairro novo
Só "unidos venceremos"
Reza um ditado do Povo
(...)
Mandadores de alta finança
Fazem tudo andar pra trás
Dizem que o mundo só anda
Tendo à frente um capataz

(...)

Eram mulheres e crianças
Cada um c'o seu tijolo
"Isto aqui era uma orquestra"
Quem diz o contrário é tolo

2 comentários:

correio da manha, João Pereira Coutinho disse...

O bairro da Bela Vista esteve a ferro e fogo e toda a gente decidiu dar palpites. Existem duas escolas de ‘pensamento’. A primeira pede mais inclusão e diz que a culpa é da pobreza. A segunda pede mais repressão e diz que a culpa é dos delinquentes.

Eu, modestamente, peço mais reclusão e digo que a culpa é do Estado: ao enxotar os mais pobres para guetos imundos, longe dos centros de ‘socialização’, e ao sustentar vidas de indolência e irresponsabilidade familiar, o Estado apenas criou o monstro que agora se volta contra ele. A Bela Vista é um problema de pobreza, sim, mas de pobreza moral, ou até espiritual, promovida pelo paternalismo abjecto do Estado. Depois de enfiar os criminosos na cadeia, seria aconselhável que as políticas sociais de sucessivos governos também não ficassem por aí à solta.
João Pereira Coutinho

Anónimo disse...

O Zeca é uma perigosa voz da direita para estes novos revolucuionários instalados no poder local.