quarta-feira, setembro 26, 2007

COLOMBOFILIA (3)


imagem: Almada Forum

Outro factor que obriga a uma reflexão sobre a fórmula "Shopping Center" é a dependência que ela nos traz de locomoção e que inevitávelmente implica o uso do automóvel, o que é um non-sense para uma sociedade que caminha a passos largos para o envelhecimento.


Com a morte do comércio onde as pessoau vivem e a sua proliferação em periferias distantes não é só o lado dinâmico da cidade que está em perda, mas também as suas funções básicas de proximidade, fundamentais sobretudo aos cidadãos mais idosos.

Morrem as ruas, morrem as Praças e os jardins, morrem as pessoas que se sentem cada vez mais abandonadas e auto-dependentes.

Entretanto esses grandes Centros Comerciais não são aproveitados nas suas qualidades aglutinadoras como apoio a zonas exteriores que podem oferever mais às populações , por exemplo na margem sul, o Almada Forum foi construído "de costas" para o Parque da Paz, no Seixal o Rio Sul foi construído sem a contrapartida de uma zona verde ampla e desfrutável , sem o parque ambiental que poderia existir na Flor da Mata, no Montijo serviu simplesmente para aglutinar novas urbanizações, o mesmo em Setúbal, em Alcochete... ou seja, são verdadeiros castelos virados para o seu interior, sem contrapartida nenhuma para a cidade ou para o espaço envolvente, perfeitamente autofágicos e auto-suficientes.

Por sua vez, os autarcas que lhes dão aprovação e os incluem nos seus PDM e deles retiram contrapartidas (eleitorais até), projectam a sua cidade quase que exteriormente a estas estruturas, veja-se como estão servidos de transportes públicos para perceber do que é que falo.
Mas para os autarcas estes grandes espaços aliviam os seus orçamentos, são ruas que não têm de cuidar, espaços urbanos que não têm que limpar, iluminação que não têm que pagar, estacionamentos que não têm que criar...

E o que temos assim são dois mundos, duas concepções da cidade antagónicos, mas que é necessário e urgente que convirjam ,primeiro porque é irrealista alimentar tanto consumo , depois porque não podemos abandonar as nossas cidades deixando-as entregues à degradação e em terceiro lugar porque o comércio faz parte da cidade, mesmo nas autarquias que ideologicamente , apesar de aprovarem Grandes Superfícies de Grandes Grupos económicos têm pruridos em apoiar a sua "pobre" burguesia urbana.

7 comentários:

Luis Eme disse...

Gostei e concordo com esta tua reflexão...

Pobres cidades, pobres habitantes.

O futuro tem de ser sempre mais assustador?

Anónimo disse...

vou falar de algo que não tem propriamente a ver com este post, por isso as minhas desculpas.

Ontem quando ia a passar na rotunda por debaixo do viaduto em Corroios vejo um cartaz da câmara municipal.... estava eu no trânsito parado e foi um momento hilariante. Dizia mais ou menos isto o cartaz: A Câmara Municipal aposta nas acessibilidades!

Ver este cartaz e ao lado o viaduto parado há dois anos e aquele trânsito foi um momento cómico que me fez aliviar o stress e perceber até que ponto os srs que nos governam são hipócritas e cínicos!

Ana disse...

Concordo inteiramente com o que diz, mas pergunto será que alguem está interessado em tal?
Constatamos com facilidade (Não é preciso viajar, vemos na TV), que países com condições climatéricas bem piores do que a nossa não perdem um bocadinho do sol que por lá vai aparecendo, eles é andarem nos parques nas esplanadas, nas ruas, por todo o lado, aqui a maior felicidade é sempre que se tem um tempo livre vai-se para o centro comercial, fazer não sei o quê, ainda não percebi.

Ponto Verde disse...

Agradeço a participação de todos, mas respondendo ao ultimo comentário de Ana, quando pergunte porquê... bom, porque maioria das cidades da Europa civilizada os carros não ocuparam os passeios projectados para as pessoas, e aí há até lugar para as pessoas se sentarem e desfrutarem de esplanadas (a partir desta altura aquecidas a gás, coisa que por cá não precisamos).

E porque é que por cá há carros estacionados por tudo quanto é sitio? Porque a lei que obriga os construtores a construirem lugares de estacionamento nos prédios que constróem não se cumpre, porque os condóminos alugam a outros os lugares de que dispõem...porque as câmaras não criam lugares ordenados de estacionamento, porque plantam três prédios onde deviam estar só dois...porque há falta de civismo, do minimo de gosto nos cafés das esplanadas junto aos escapes dos automóveis...etc...

Falta cultura e exigência em suma!!!

Ana disse...

ok os outros fizeram tudo isso e a nós falta-nos cultura em geral e cultura da exigência em particular, mas e há sempre um mas, tambem nos falta a cultura de andar a pé, sobra-nos a cultura do automóvel. Estou de acordo e subscrevo toda a segunda parte do texto, mas não podemos continuar "sacudindo sempre a água do nosso capote", temos de deixar de ser "comodistas", temos que ser mais interventivos, mais exigentes, em suma devemos ser Cidadãos de corpo inteiro com tudo o que o mesmo implica, Deveres e Direitos.

Ponto Verde disse...

Certo!

Mas, há sempre um mas...

Não sou utópico, para reduzir a automovel-dependência é preciso condições , a saber:

1) melhores transportes publicos (horários, redes, meios)

2) alternativas de transporte individual, mas para isso, o mais imediato é a bicicleta é preciso que haja condições de segurança, logo, imperativo construir ciclovias...

3) Mas não é opção dos autarcas esta orientação.

Abstermo-nos de votar é tão grave quanto não criar ou optar por alternativas.Na Margem Sul a máquina de propaganda é brutal , estupidifica, anula retrai.

Cidadania é precisa, mas o que esperam as oposições para assumir essa locomotiva, se temem essa mesma cidadania?

Ana disse...

Nao quero de maneira nenhuma entrar em dialogo, mas, so os fracos devem temer a Cidadania, e cabe a todos os cidadaos exigirem mais e melhor, porque nao criar grupos de cidadaos ja que os partidos parecem que se estao a esgotar, ha muitas formas de oposiçao.