O a-sul pelos seus leitores, colaboração de O.José.
Todo o debate de ideias é positivo, e resulta sempre num avanço para o conhecimento e para o bem comum, no sentido em que é através do debate de ideias que se conseguem descobrir as melhores soluções para problemas existentes. Isto, quando há ideias a ser debatidas, naturalmente. Porque quando não são ideias que se debatem, quando o diálogo, ou antes, os discursos ou como é mais frequente, um dos discursos, assenta somente na apresentação e defesa intransigente de um ponto de vista monolítico, com o objectivo de levar a outra parte a desconcentrar-se, e a dissolver a atenção pública para esse diálogo, numa dose de ruído que torne toda a mensagem confusa, então aí, o que se obtém é nada.
No caso presente a apresentação e defesa intransigente de um ponto de vista é efectuada por alguém que certamente nunca mergulhou nas águas do estuário do Tejo, nunca viu o estado do fundo do rio, quer na margem norte quer na margem sul.
Para além disso certamente não perde três horas por dia em transportes públicos (hora e meia para cada lado), tendo de usar dois meios diferentes, apenas para chegar até à travessia para Lisboa, logo, não vendo e sentido diariamente os problemas do trânsito, a má configuração e manutenção das estruturas rodoviárias, e as consequências que estas têm para a qualidade de vida das centenas de milhar de pessoas que vivem na margem sul;
Creio ainda que nunca terá estado em situação de beneficiar de um ambiente onde a evolução dos indivíduos é estimulada e conseguida através da análise de ideias e factos concretos, apresentados sem rodeios ou artifícios, de forma a produzir conclusões baseadas na lógica e racionalidade científica (geralmente algo a que se tem acesso, pelo menos, durante a escolaridade obrigatória), coisa que é contrariada por outro método de “ensino” denominado indoctrinação, ou lavagem cerebral política.
Eu posso falar de experiência própria; vi, senti, tive de saborear e cheirar e absorver pela pele aquilo que está no fundo do rio Tejo; sei bem de onde veio, quem o deitou lá, por onde tem ido lá parar, porque trabalhei nesse ambiente. Eu perco tempo de vida em filas de trânsito que aumentam de ano para ano porque as urbanizações crescem serpenteantes por esta terra afora, descontroladamente, para cada vez mais longe dos antigos centros urbanos, ocupando qualquer espaço livre que ainda haja;
Eu vivo no meio das pessoas comuns, que não têm participação, se desinteressaram e desiludiram com os “altos desígnios” das entidades gestoras dos nossos destinos, porque a única coisa que podem fazer é dar uma carta branca de actuação, válida por quatro anos, aos que manobram os “poderes que podem”.
Eu vivo, eu respiro, eu trabalho na margem sul. Eu sofro com e por causa dos problemas dela. A minha vida é pior por causa dos problemas dela. Assim sendo, a única coisa que eu concluo é que quem se recusa tão acerrimamente a olhar para estes dados, ver estas fotografias, aceitar estes dados nus e crus, só o faz ou porque não tem capacidade para os compreender, ou porque não os vive, ou então, porque está refém ou é fiel depositário de interesses próprios de quem beneficia de algum modo de tudo isto, através da manutenção destas situações.
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