segunda-feira, novembro 14, 2005

OUTROS BAIRROS - NOVOS GUETOS







Usando a ferramenta que salientei ontem Google-Earth (e que parece tanto irritou alguém ) vamos viajar por alguns bairros problemáticos da Margem Sul, numa altura em que o que se passa em Paris está na ordem do dia, à esquerda Cucena-Seixal.Construido em terreno industrial longe de tudo. Logo após a inauguração viu as instalações comunitárias vandalizadas.

Não é de hoje com os problemas de Paris que nos preocupamos e debruçamos sobre o tema, temos vastos trabalhos publicados sobre o tema que podem encontrar em arquivo , bem como inumeras denuncias sobre a instrumentalização politica que têm servido todos os interesses e todos os partidos.

Finalmente este fim de semana atingiu-se o expoente máximo de atenção e análise do tema dos Bairros Sociais com dossiers extraordináriamente sérios e bem elaborados sobre o tema, raro foi o jornal de referência que não publicou inumeras páginas e opiniões.
Destaco aqui o artigo de Fernanda Câncio no DN e o melhor titulo de todos "Estes bairros da Felicidade impossivel"





Moita, Bairro da Fonte da Prata, um gueto agora rematado com um apêndice "rico".Longe de tudo e todos ...



O que Fernanda Câncio salienta no seu artigo é o "estigma do gueto" ,leva-nos a por exemplo Isabel Guerra que refere " as pessoas não são coisas que se metam em gavetas: agarra-se numa população de um bairro de barracas e transfere-se para um bairro de prédios.Resultado: a 'promoção social' almejada não se verifica, o estigma que pesava sobre o primeiro bairro transfere-se para o segundo."

Sopre este estigma Fernanda Câncio cita José Cavaleiro Rodrigues "Sentindo-se 'roubados' da nova identidade social sonhada, desenvolvem um "processo acusatório" em relação aos vizinhos.A 'sociabilidade e a solidariedade inicial do bairro de barracas' são substituidas pela 'generalização de formas de interacção negativas'. É o 'gosto pela casa e o desgosto pelo bairro'..."

A casa nova, de que se reclamou incessantemente o direito adquirido não é afinal a "sua" casa, mas aquela que uma sociedade sem rosto entrega em penhor de uma qualquer "culpa". Uma esmola que ao invés de colmatar a exclusão a confirma.Uma desculpa, boa ou má, talvez seja por isso, alega Maria João Freitas "que diz-se, destroem aquilo que é seu...mas se calhar não sentem aquilo como seu".








Quinta da Princesa , Seixal.Mais um bairro social longe de toda a malha urbana.

No mesmo dossier do DN, António Fonseca Ferreira, presidente da CCDRLVT afirma "Espero que com o que se passa em França as pessoas despertem, depois de andar toda a vida a pedir que não se reproduzissem cá os mesmos erros que outros fizeram" tem agora esperança que o que se passa em França alerte para a necessidade de intervir por cá.

Noutra parte do mesmo dossier, Paula Lobo escreve "Os erros foram identificados há mais de duas décadas, mas a pressão das soluções rápidas e do lucro fácil tem levado a melhor sobre a opinião de urbanistas e arquitectos, ao desafia lançado pela jornalista responde o arquitecto Nuno Teotónio Pereira "Se o urbanismo pode ser uma causa para os confrontos ? Com certeza! A concentração do realojamento de familias pobres em bairros isolados do tecido urbano é um disparate" - (vejam-se as imagens com que ilustramos o post).









Picapau amarelo - PIA/Almada Mais uma aberração de alojamento em massa.

Relembro para terminar uma frase de Judite de Sousa (JN 12/11/05) "O problema em França e em muitos outros países europeus é que os governos não controlam mais os processos de exclusão económica e social" , o que é uma ideia aterradora se considerarmos que autarcas há, perfeitamente inconscientes (?) , a pôr achas para a fogueira, promovendo alguns dos bairros reproduzidos e querendo continuar essa saga com a criação de novos guetos, como no Seixal se passa para além dos já ilustrados, com a zona protegida da Flor da Mata/Pinhal dos Frades em que mais um Bairro Social em zona protegida é pretendido construir pela autarquia e privados , serviria de brecha para urbanizar uma zona protegida, mais um caso fora de malha urbana, MAIS UM GUETO!Tal como o Bairro da Primeira imagem que tem só quatro anos!!!

3 comentários:

Filipe de Arede Nunes disse...

É um problema sobre o qual devemos reflectir.
Na verdade, muitos pensamos, mas poucos temos coragem de dizer, que não gostariamos que as familias oriundas de antigos "bairros de lata" se mudassem para junto das nossas casas. Temos vergonha de admitir os nossos preconceitos, temos vergonha de admitir que a construção de um bairro social perto de uma zona habitada reduz consideravelmente o valor do nosso imovel, temos vergonha de reconhecer tudo isto e daí os problemas suscitados e que redundam em exclusão social.
Infelizmente é uma questão de mentalidades, talvez de crescimento intelectual e emocial, mas eu aqui me confesso, também não gostaria que fosse construido um "gueto" perto da minha casa, não estou preparado para enfrentar a marginalidade e os indicios de terrorismo urbano.
No entanto creio que existe uma solução, que reside na capacidade de combater o choque cultural e a "guerra civilizacional". A capacidade de integração de populações desfavorecidas é um desafio de sempre, e que tem necessáriamente de ser combatido.
Oxalá que aqueles que nos governam possam ter a capacidade de encontrar a solução de um problema que é de todos.

Anónimo disse...

Esqueceram-se imVale de Amoreira ( moita) <3

Anónimo disse...

Vale da Amoreira? hahahaha voçes teem cafés, mercearias, centros comerciais e vens me dizer que falta o Vale da Amoreira? Nós aqui na Fonte da Prata, nem paragem de autocarros temos,temos de ir apanhar o bus fora do bairro porque os TST não entrão aqui no bairro, a policia não vem aqui dentro, pação por fora do bairro com a porta da carripana aberta e os gajos de shot a olhar, não há parques, e a volta do bairro só a mato não temos nada, não podes mandar vir uma simples pizza porque ninguém quer vir ca entregar. Voçes ai do Vale nem veem aqui ao bairro, os gajos daqui e que vão ai fazer os assaltos ao vosso bairro e voçes não fazem nada. Fica maze calado pá, cambada de putos com mania que são maus. "Fonte da Prata-2860" - Moita