TRAPALHADA ?

Cartoon Luis Afonso, Publica 25/09/05

Em busca do autarca modelo estávamos nós todos no passado domingo, o perfil dessa utopia foi desenhado no Expresso do dia anterior em artigo de Marisa Antunes segundo os atributos de alguns especialistas "Colocar a honestidade ao serviço da comunidade, ter sensibilidade paisagistica e noção de ordenamento do território e trazer na «bagagem» conhecimentos essenciais de gestão aplicados às autarquias- ao nivel financeiro, social, cultural, ambiental - deveriam fazer parte dos atributos de um autarca modelo".

Para o Professor Marcelo Rebello de Sousa, "seria util se o autarca tivesse uma formação em gestão autárquica..."

Para a Dra. Maria José Morgado "os autarcas deveriam acima de tudo ser honestos. A honestidade é uma obrigação que deve sempre estar presente no exercicio das funções publicas.Mas a ética não é uma matéria técnica, não se ensina".

Para o especialista em arquitectura Paulo Varela Gomes "Eles até podem ter cultura literária ou juridica, mas 9,5 em cada 10 autarcas não tem cultura artistica, visual ou de planeamento ...basta ver o estado a que chegou o território português , sem paralelo na Europa..."

Estamos pois descansados, não elegemos certamente os autarcas modelo que encaixam em todas estas categorias, arrisco a dizer que há muitas décadas não são estes os autarcas que vimos elegendo, basta olhar em volta e para a avaliação que deles faz a opinião publica, o cartoon é elucidativo...
Essa avaliação pode-se ler também no elevado grau de abstensão, parece que os unicos culpados serão os proprios politicos, embora se queiram sistemáticamente atirar as culpas a terceiros ,para cima de quem expõe e critica a "obra feita" , aos jornalistas entre outros.

Mais uma vez tal se arrisca a acontecer com a "trapalhada" da contagem dos votos no Seixal, cujo processo eleitoral fora posto em causa pelos partidos perdedores. Vem agora o partido vencedor e contestado queixar-se dos jornalistas apesar de admitir que houve situações que não foram isentas de critica, mas assacando a culpa inocente desses erros a situações de "cansaço"," inexperiência"...

Se por um lado é grave desculpar falhas num acto eleitoral (que é um acto do Povo, da Republica, por via do Municipio e não do partido, no poder ou fora dele, qualquer que ele seja - por isso estranha-se a forma personalizada com que a CDU encarou as criticas...?) pois não se trata de um qualquer acto, sob o ónus da descredibilização desse mesmo acto. Por outro lado a oposição, caso não tenha fundadas ,sólidas, objectivas e inequivocas suspeitas do que alega, sob o mesmo ónus da credibilidade, não deveria ter enveredado pela contestação que enveredou, ( a menos que haja factos ainda por revelar...a bem da democracia e do Seixal, é bom que assim seja).

Num Municipio, e numa Margem Sul onde os residentes têm há muito uma relação com o exercicio e a legitimidade do poder reveladora pelos valores da abstenção, e onde a oposição se tem pautado pela "discrição", é a palavra mais inócula que consigo encontrar, entrar agora de rompante com esta atitude, surpreendeu os cidadãos que se têm mantido na expectativa, e é nessa expectativa que escrevo estas notas...

Depois de uma campanha - em que a oposição optou pela "não campanha" no caso do PSD- Seixal, nos "tiros no pé" no caso do PS (pior só as propostas do PS para Almada com o reanimar da absurda Manhatan de Cacilhas) , e nos dossiers bem estudados mas com um mau "grafismo visual" que já não se veste, no caso do BE, surpreende esta energia pós eleitoral, reveladora que tiveram a guardar energia - a pensar talvez numa segunda volta que não faz parte desta votação... Surge agora surpreendentemente , todo este empenho, que se elogia a menos que se revele no que afinal aparenta, "um saco cheio de nada" protestado, segundo o outro lado "por coisa nenhuma"...

Se assim se vier a concluir , depois do mau serviço que prestaram à democracia com uma má campanha, onde não se viu o assumir da contestação a irregularidades da vereação cessante e assumidas sómente por alguns cidadãos individualmente ou em grupo e não por nenhum dos partidos da oposição, aparecem agora a prestar o segundo mau serviço (caso não consigam provar a sua contestação) descredibilizando-se perante a opinião publica antes mesmo de terem tomado posse ou encetado qualquer outra iniciativa (é bom que tenham argumentos fortes e válidos!).

A História do Pedro e do Lobo aplicada a este fait-divers torna-nos todos cordeiros indefesos do Lobo que supostamente nos pretendem proteger. Só falta vestirem também a pele do lobo...