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sábado, fevereiro 02, 2008
A PROPAGANDA E O PATRIMÓNIO
Vista da Amora 1852 , por Tomás da Anunciação, Museu do Chiado
Do tema aqui levantado ontem resultaram comentários de excelente qualidade dos quais destaco este de "hkt" :
"As memória do Seixal são passadas por dois crivos: ideológico e financeiro. Lamento dizer isto mas, constata-se que há memórias/simbolos que não ajudam a criar a imagem "certa" do município. Há memórias que se encontram no sítio certo para fazer avançar o progresso (leia-se, urbanizações, hipermercados...). Ora, dentro do espírito dialectico de que tudo o que se constrói ... e aproveitamento o gosto do povo pelo´"ópio da propaganda" que o torna apático ..."
Há deste comentário uma desesperante verdade, tudo passa pela construção de uma imagem de slogans propagandisticos ... de "modernidade" , obrigando, ideológicamente , a uma ruptura com "certo passado" que essa ideologia, apesar de ter acontecido... rejeita.
Ora, uma ideologia que quer refazer a história, que rejeita edipianamente o passado é uma ideologia sem futuro como já foi confirmado em tempos recentes ... mas na Margem Sul , vai-se mais longe e para além da história pretende-se reconstruír pacóviamente , a geografia cultiva-se agora o slogan da "Cidade das duas margens com centro no Estuário do Tejo" , ou turisticamente na Costa Azul ... "Entre os Flamingos do Tejo e os Golfinhos do Sado"...
É tudo uma mentira tão grande como a entrevista de Alfredo Monteiro à Antena 1 , ou como os cartazes dos Flamingos que ajudam a materializar essa mentira da Baía despoluída ...e só acreditarei nessa fantasia quando se abrirem vagas para calceteiros marítimos nas autarquias da margem sul para embelezarem de bela calçada portuguesa o centro dessa cidade de duas margens... claro que quando lá chegarmos farei alusão à célebre frase de Santana Lopes "...mas este país está doido?" .
Sei desde que nasci que a Margem Sul não é nenhum deserto, mas sei também que já esteve mais perto do paraíso ecológico do que hoje, e esteve precisamente perto desse ideal ecológico, naquela fase histórica que a ideologia reinante recusa, ou seja, precisamente antes da Margem Sul ter sido o balão de ensaio da industria pesada cuja história se pretende , essa sim, perpetuar! E da primeira grande vaga de emigração sentida por uma região em Portugal.
Há pouco mais de um século (assinalou-se ontem o regicidio) a margem sul era local de veraneio da monarquia que aqui encontrava também abrigo da pestilência da capital , o Rei estava nesta banda nas " suas sete quintas " havia uma memória da importância da Margem-Sul na empresa dos Descobrimentos e as florestas e bosques repletos de fauna só mudavam de horizonte nas escarpas da Arrábida que não era Parque Natural, mas onde não havia pedreiras nem cimenteiras ...
Essa História, essa ligação à terra, à memória não interessa a esta ideologia, tal como não interessa a história recente ainda mais perto da industrialização ... de há cinquenta anos, de uma região que ainda vivia em contacto com a natureza da produção agrícola e florestal, da cortiça , das ostras e da pesca, que vislumbrava golfinhos, não no Sado, mas no Tejo e onde os flamingos eram já então presença .
O que interessa agora é inibir-nos dessa memória e criar antes uma pequena estória , ilustrada com esta pequenês de gente que hoje nos governa.
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2 comentários:
O PCP assobia para o ar!
Agradeço desde j+a o seu destaque.
O património deste concelho está a ser destruído metódica e selectivamente.
Os blogs -particularmente o seu - têm contribuído fortemente para a criação de uma opinião pública local, espera-se que a visibilidade dado aos temas incómodos venha a condicionar decisões que de outra forma seriam tomadas sem apelo nem agravo.
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