Seguindo para poente, lá fui eu apreciar o dique, obra maior do poder moiteiro nos anos 90, símbolo de toda a sua incompetência técnica e de um desperdício financeiro perfeitamente desnecessário, que agora é preciso deitar abaixo, gastando mais uma montanha de euros que podriam ser bem aplicados em coisas bem mais prementes.
Porque devemos sempre recapitular o autêntico descalabro político-financeiro que conduziu a este elefante branco á escala local.
- Antes de mais, para substituir a velha porta de água que durante tanto tempo serviu para regular o ritmo da entrada e saída de água da caldeira e de comunicação entre a ribeira da Moita e o Tejo, concebeu-se a obra mirífica de um dique que permitiria fazer qualquer coisa que nunca se percebeu muito bem o que seria e para que e a quem serviria, embora a expressão "Espelho de Água" tenha sido usada amuidadas vezes. Perante os avisos de que tal obra mais do que desnecessária era tecnicamente pouco adequada, o poder moiteiro impou de arrogância e mandou fazer, enterrando-se ali bom dinheiro que não foi gasto em equipamentos bem mais interessantes para o bem-estar da população.
- Depois, como obra destinada a marcar o final do mandato bicéfalo JA/JL e a entrada no novo milénio, foi a vez de ser lançado o projecto de reperfilamento da marginal moiteira, com o objectivo de "devolver o rio à população" e outras inanidades parecidas. Aí se enterrou mais de um milhão de contos dos antigos, comparticipados por fundos comunitários, mas apesar disso implicando mais de uns 400.000 contos de investimento directo da CMM (se não foi isso, então é porque os dados publicitados estavam errados). O "Espelho de Água" voltou a ser falado, mas continuou a primar pela inexistência, antes se tornando cada vez mais evidentes os efeitos prejudiciais do dique em termos de assoreamento de toda aquela área. Para além de que bem nos lembramos dos prazos da obra sucessivamente desrespeitados e dos buracos que marcaram a fase posterior à conclusão oficial das obras.
- Agora, como cereja sobre o bolo, anuncia-se nova obra destinada a demolir parte da asneira inicial, por forma a corrigir o que foi mal feito, apesar dos avisos feitos. O que significa que, enquanto outras zonas do concelho andam à míngua de recursos, fazendo-se intervenções onde se contam os tostões, a zona da marginal e caldeira da Moita vai ser objecto de uma terceira campanha de obras públicas, na ordem dos milhões de euros para que tudo volte quase ao início.
O que ganhou a população com tudo isto, para além de sucessivos incómodos? Alguém nota um afluxo das gentes moiteiras em busca do rio devolvido?
Claro que não.
Quem ganhou com isto foram os senhores que beneficiaram das empreitadas em causa.
Quem perdeu?
O erário público local e as populações que precisavam de obras de âmbito municipal bem menos onerosas, mas para as quais deixou de existir verba.
Depois existe a manifesta lata de aparecerem a queixarem-se de "constrangimentos financeiros" para justificar as esmolas dispensadas em matéria de associativismo, desporto, cultura e educação.
Alguém já fez bem as contas ao dinheiro enterrado ali naquelas centenas de metros?
Mesmo que 50% fosse justificado - caso das obras ligadas ao saneamento - já repararam que sobra uma enorme pipa de massa mal gasta?
Mas o que é pena é que isto parece irrelevante para quase toda a gente, em especial para os moiteiros desde que lhes sirvam bosta e febra duass vezes ao ano. E aos amoitados que, desde que lhes dêem um Fórum Cultural com uma programação minguante pouco depois de inaugurado, parecem achar que está tudo bem.
Quanto a Alhos Vedros, com pouco se contenta. Uma "requalificação" que custou pouco mais do que uma vivenda para férias nos Algarves e um restauro do Minho de Maré que, sendo bem-vindo, continua encravado entre um palacete em ruínas e um cais velho onde os esgotos continuam a boiar.
Mas tudo bem.
O povo é sereno, cego, surdo, sem olfacto e pelos vistos nem sabe fazer contas.
1 comentário:
Obrigado pela referência.
Por aqui a coisa continua a cheirar mal, mesmo se os aparelhistas andam cabisbaixos e meio desorientados com as discussões internas.
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