domingo, abril 26, 2009

A PROPÓSITO DE ABRIL


O a-sul pelos seus leitores:

«Aquilo que se quer dizer, nem sempre sabemos como o dizer, por isso o início da partilha de uma ideia nem sempre é facil, apesar de sabermos muito bem qual é a ideia que nos move. Por isso o mais facil neste momento, para mim, é dizer-vos a minha ideia. E a minha ideia é: “Temos o direito de nos indignar, e o dia que hoje se celebra, é o dia em que pudémos passar a exercer esse direito”.

A indignação pode ser exercida, o que não quer dizer que devamos estar contínua e ininterruptamente indignados. Algumas coisas há que nos merecem o carinho, a contemplação e o apreço, e que nos retribuem com o serviço, o cuidado ou o prazer. Temos o dever de preservar e valorizar o que de bom há, e o direito de nos indignar para com o que nos é iníquo, humilhante ou perigoso.

Se eu acho que devemos ou não fazê-lo, isso é um juízo de conduta que a mim reservo, como tentarei reservar para mim aquilo que acho que os cidadãos devam fazer com qualquer dos seus direitos (o que não se passa com os deveres, que defendo que deverão ser sempre cumpridos).
É por isso que hoje, acho que devemos celebrar a existência de locais livres de amarras ou consequências onde podemos exprimir o nosso direito de indignação. Exactamente como teste blog.

É nosso direito indignarmo-nos para com a existência dos buracos nas nossas ruas, as infiltrações nas paredes das nossas escolas, as filas do trânsito desperdiçadoras de tempo, de valor e de ambente, ou em termos mais filosóficos, indignarmo-nos com as teias invisíveis que nos agarram e nos envolvem como num casulo onde ficamos inexoravelmente fechados, presos às necessidades artificiais e neuróticas do consumismo, presos às prestações de cartões de crédito que nos suplementam salários calculados com a finaliade de nos manter no limiar da sobrevivência e no máximo da subserviência, presos à roda dentada de uma mecânica que movimentamos, mas de que não conseguimos compreender o valor nem obter qualquer retribuição.


No dia de hoje relembram-se e panfletam-se momentâneamente os motes, as ideias e as pessoas que fazem parte dessa cada vez mais nebulosa fase da nossa História moderna. No intervalo que vai do final da Segunda Guerra Mundial até hoje, 1974 não ficará exactamente no meio, mas o facto de se tratar de um acontecimento da nossa própria História dar-lhe-ia uma especial notoriedade.

No entanto, tenho dúvidas que aqueles que hoje têm 35 anos saibam tanto sobre o 25 de Abril como sabem sobre a Segunda Guerra Mundial, e especialmente, que aquilo que sabem de uma das coisas esteja tão livre de rotulagens artificiais e redutoras como da outra, com prejuízo para a primeira.


Das pessoas que se relembram hoje incontornavelmente, uma delas foi também alvo de muita rotulagem artificial e redutora, de que se tentou livrar com frases como “Eu sou o meu próprio Comité Central” (Zeca Afonso). A minha ideia, a tal que disse que queria partilhar, mas que não sabia bem como, era que temos do direito de questionar as coisas com que não concordamos, e mesmo, ou sobretudo, aquelas que não compreendemos, sem esperar que um qualquer “comité central” ou de uma forma menos partidariamente conotada, um qualquer “órgão de poder”, “instituição”, “associação”, ou “grupo” de reais ou auto-intituladas mentes pensadoras nos dêm a permissão para tal ou o façam por nós.

Devemos ter presente que é um direito que se nos assiste, como indivíduos que actuam politicamente nos destinos da nossa Vida, do nosso mundo, do nosso País ou da nossa Cidade (e “Política” vem exactamente da expressão Grega “a vida da Polis, a Cidade”). Especialmente nao nos devíamos alhear do facto que nem sempre tivémos esse direito e que há ainda, e sempre haverá, quem tente que as nossas opiniões e as nossas indignações sejam dirigidas e aproveitadas para fins que provavelmente não terão nada a ver com terminar o motivo da nossa indignação.

Por isso é que é importante ser Eu a dizer aquilo que Eu penso, ser Você a dizer aquilo que Você pensa, e não ficar passivamente à espera que seja o Partido, a Associação ou outra qualquer comité central a dizê-lo.
O 25 de Abril viverá sempre enquanto haja entre nós quem não delegue o seu direito de livre expressão, o seu direito de indignação. Abster-se de participar na vida (do Mundo, do País, da Cidade) é abster-se de viver. Viva, e viva o 25 de Abril. »


O.José

8 comentários:

Anónimo disse...

Este texto levanta questões centrais na nossa democracia. Parabéns

Anónimo disse...

oliticos de serviço, na sua maioria são de Abril, só que de Um de Abril, para chegar a 25 qanto mais temos que esperar ?

Anónimo disse...

Pena é que o Abril de 74 tenha durado muito pouco....

Hoje, Abril de 2009, após 35 anos e 30 de governos PS e PSD, estamos no Abril:

Abril de desemprego,
Abril de incerteza,
Abril do desespero,
Abril de fome,
Abril de Universidades sem dinheiro,
Abril em que fecharam Centros de Saúde, maternidades,
Abril em que não se constroiem Hospitais,
Abril em que não há segurança,
Abril em que se quer acabar com o serviço público,
Abril em que só alguns tem médico de familia,
Abril em que só alguns tem dinheiro para pagar a habitação.
Abril em que alguns pouco mais comem que uma migalha de pão,
Abril em que só alguns tem direito à educação,
Abril em que só alguns tem direito à saúde,
Abril em que alguns sofrem repressão,
Abril em que só alguns tem direito a uma reforma/pensão digna,
Abril em que só alguns tem direito à cultura,
Abril em que só alguns tem direito ao desporto,
Abril em que só alguns tem direito ao emprego,
Abril de tristeza!!!

Mas Abril de convicção que este Povo, este País, precisa de melhores governantes e de melhores politicas, sociais, de educação, saúde, económicas...

Abril de esperança, no Povo que lutará pelo Direito a um País melhor.

Minha rica Revolução de Abril, que em 1974 nos libertaste da ditadura e que hoje pouco nos resta das conquistas e das lutas que se travaram, por uma vida mais digna para o Povo Portugues.

Povo trabalhador, cansado de seres maltratado , que não tens dinheiro para viveres com dignidade, mas que também és digno a ter uma maior e melhor vida.

Exorto-te a gritar bem alto,
VIVA A LIBERDADE!!
VIVA OS DIREITOS CONQUISTADOS EM ABRIL!!!

Exorto-te a acreditar que vais CONTRIBUIR para mudar o País para melhor.

Desafio-te a escolheres um Governo que te respeite mais e que te dê uma vida melhor.

Anónimo disse...

Anónimo 26/04/ 16.00
Imagino com esta lenga, lenga,de que ninguém discorda, isso só será possível com um governo do PCP/CDU/VERDES/INT.DEMOCRÁTICA e INDEPENDENTES, e depois ficaremos parecidos como talvez Cuba ou a Moldávia? ou se calhar como a democracia do betão á moda do Seixal.

Anónimo disse...

Lenga... Lenga???

Mora cá em Portugal??

ÃH! já sei...mora na Quinta da Marinha
e é rico,
anda num carro topo de gama,
usa fatos da Boss ou Armani,
tem um bom tacho (emprego),
vai jantar ao Tavares Rico,
tem os menino no colégio
e quando está doente vai à clínica particular
e por isso não sente o mesmo que a maioria dos Portugueses.

Anónimo disse...

Afinal onde é que pára a DEMOCRACIA e a LIBERDADE ????


Alunos “condenados” por
organizar manifestação

Três estudantes da Escola Secundária, organizadores de uma manifestação, viram o processo suspenso provisoriamente e vão prestar serviço de interesse público

A três alunos da Escola Secundária de Penacova, a organização de uma greve e uma manifestação contra o Estatuto do Aluno, no dia 17 de Novembro de 2008, colocou-os a braços com a Justiça, num caso que redundou agora na suspensão provisória do processo, por quatro meses, com a injunção de prestarem 20 horas de “serviço de interesse público” no estabelecimento de ensino, com monitorização da Direcção Geral de Reinserção Social, que elaborará o relatório no final do prazo de suspensão.

Anónimo disse...

Existem pessoas e organizações que só funcionam com os pobrezinhos, muitossss, para eles utilizarem como carne canhão!
Você fugiu á questão, ninguém contesta o longo caminho percorrer para atingir um nivel de países como a Suécia ou Noruega.
Mas Portugal também, felizmente já não é o Burkina Fasso!
Já agora diga quais o países governados por PCs, que estejam á frente do nosso no Indice de Desenvolvimento Humano.Portugal apesar de todos os problemas que se conhecem está em 26º em 198 paises!
Essa técnica de chutar a questão para canto quando interessa, está em campo no Seixal há 35 anos.
Por exemplo na noite de 24 Abril os camaradas gastaram só 130.000 €
em Fogo de Artificio e Concerto e vem você falar de colégio caros e Tavares Rico ? pode-me dizer onde fica?

Anónimo disse...

Ganda nóia!!!

Genéricos à borla são 2% da despesa
Em Junho, um milhão de reformados com pensões inferiores a 450 euros terão acesso a medicamentos genéricos gratuitos, desde que receitados pelo médico.

Só 2%????
Estão a dar esmola aos pobrezinhos é???
Será que os nossos idosos nao tem direito a serem melhor tratados pelo Governo??