sexta-feira, dezembro 09, 2011

RIBEIRO TELLES UM HOMEM À FRENTE NO SEU TEMPO , A MERECIDA HOMENAGEM



Gulbenkian e Centro Nacional de Cultura celebraram  o paisagista Gonçalo Ribeiro Telles. Colegas do ensino e da política, alunos e amigos quiseram honrar o mestre e, sobretudo, o homem

Gonçalo Ribeiro Telles falou no fim, como compete ao homenageado. Com o auditório 2 da Gulbenkian cheio, com muitas pessoas de pé, o arquitecto paisagista a quem muitos chamam "mestre" admitiu o desconforto: "Nunca estive tão envergonhado para falar." Deram-lhe a palavra depois de um dia de testemunhos de alunos, discípulos, amigos e companheiros de vida política, uns monárquicos, como ele, outros não. 

"Conhecemo-nos no combate à ditadura e é curioso que, sendo ele um monárquico e eu um republicano dos sete costados, a nossa empatia tenha sido imediata", lembrou Mário Soares já na recta final do encontro Gonçalo Ribeiro Telles - Um Homem de Serviço, que a Gulbenkian e o Centro Nacional de Cultura (CNC) organizaram ontem em Lisboa.

Pensador e político com um sentido cívico inultrapassável, defensor da liberdade e do direito à originalidade de ideias, disseram muitos dos oradores, Ribeiro Telles é, sobretudo, "uma pessoa extraordinária", sublinhou Soares: "Quando se fala do Gonçalo, há o problema dos afectos. Admiramo-lo pela sua verticalidade, pela sua obra, pela sua coragem, mas, mais do que isso, temos-lhe um afecto enorme pela pessoa que ele é."

Aos 89 anos, o político que foi membro da Aliança Democrática (AD), governante e deputado, fundador do Partido Popular Monárquico (PPM) e do Movimento Partido da Terra, ou o arquitecto paisagista a quem devemos as reservas agrícola e ecológica nacionais, os jardins da Gulbenkian (com António Viana Barreto) e o Amália Rodrigues, sente que tem ainda uma palavra a dizer. "Quero ser útil ao momento presente", dissera ao PÚBLICO antes da intervenção final.

E ser útil hoje é falar do despovoamento do mundo rural, da morte lenta das cidades, da
"paisagem que é ainda um problema", porque os políticos, desinformados, continuam a dizer que querem defender os ecossistemas e a achar, ao mesmo tempo, que um eucaliptal é uma floresta: "Eles não sabem que nos eucaliptais não cantam os passarinhos e na floresta sim." O que é que lhes falta para saber olhar para o território? "Andar a pé, conhecer o país inteiro, as pessoas", responde este homem para quem "é mais fácil deixar marcas na paisagem do que nas pessoas".

Saber falar com as pessoas é uma das qualidades deste paisagista afável e atento, garantiu o comentador político Luís Coimbra. E, para o provar, contou uma história dos tempos da AD. Andavam na estrada em campanha eleitoral quando Ribeiro Telles desapareceu. Como todos estavam já à espera para entrar nos carros, Coimbra decidiu ir procurá-lo. 

Mais bosques e mais hortas

"Chovia muito e eu fui dar com ele à porta de uma vacaria, a explicar aos agricultores que era melhor deixar os animais à solta no pasto do que alimentá-los com rações", lembrou Coimbra, com quem o arquitecto paisagista se cruzou pela primeira vez em meados dos anos 60. Para ele, Ribeiro Telles é um "político falhado" a quem reconhece "convicções firmes" e uma liberdade de pensamento inegociável. Porquê um político falhado? Coimbra esclarece: porque, apesar de ter razão, "as suas ideias para um desenvolvimento sustentado de Portugal ficaram para trás", por falta de inteligência de governos e governantes. 
É precisamente a inteligência que falta a muitos que António Barreto, Guilherme d"Oliveira Martins e Eduardo Lourenço elogiaram neste homem de família, professor e cidadão que tem formado gerações através do exemplo e defendendo sempre "o ambiente como uma causa total", disse Augusto Ferreira do Amaral, dirigente do PPM. (in PUBLICO)

1 comentário:

oze disse...

Está a terminar a cimeira de Durban. Esta pretendia produzir um "segundo protocolo de Kyoto", que actualizasse e projectasse para o futuro as ideias manifestas nesse protocolo.
Infelizmente, mais uma vez, não foi possível chegar a um consenso e esta cimeira vai ser pouco mais que uma vírgula na história da forma como a Humanidade tem tratado a Terra que lhe deu vida.
É ainda de mencionar o facto que, desde que a cimeira começou e 28 de Novembro, pouco ou nada se tem referido nos meios de comunicação, continuando a prevalecer as "notificações" sobre a crise, o déficit, os juros da dívida, e os temas acessórios sobre os quais o cidadão comum não tem, absolutamente poder nenhum de decisão. Já sobre opções de consumo sustentável, poupança de energia e água, sensibilização para as questões da biodiversidade e diminuição dos espaços naturais, nada se diz, porque para esses, basta que cada pessoa aja na sua casa, na sua rua, na sua cidade, no seu dia a dia, para que haja um impacto. Ter falado sobre a cimeira de Durban podia ter trazido ao raciocínio das pessoas estas questões. Mas aparentemente, isso não são notícias de interesse. Parece pretender-se, antes, que as pessoas se sintam impotentes, incapazes de operar qualquer mudança, de fazer qualquer diferença, deas manter totalmente subjugadas por um só pensamento: que o dinhero é que interessa, que o dinheiro é que é tudo o que interessa.