sábado, novembro 24, 2012

STREET ART 5


Era quase impossível não reagir, já dissemos. E, para o perceber, temos mesmo que recuar a esses tempos no Seixal, quando Alexandre Farto começou a fazer tags (assinaturas de graffiti), tinha apenas dez anos. Aos 13, já grafitava a sério, na margem sul do Tejo e não demorou a integrar o coletivo Leg Crew, de Almada. Fazia letras, sobretudo, era isso que apreciava e foi assim que nasceu o nome Vhils, simplesmente por serem estas as que mais gostava de desenhar. Escapulia-se de casa à noite para ir pintar comboios e paredes, passou pelos tormentos de quem insiste em fazer graffitis, fugiu pelas ruas escuras, foi parar à esquadra uma vez, mas isso tudo só serviu para gostar cada vez mais do que fazia. E começou a olhar, com mais atenção, para as paredes que grafitava: de um lado, via os desenhos murais do pós-25 de Abril esboroarem-se até quase já não se verem, do outro, os cartazes publicitários a acumularem-se como grossas paredes sobre paredes já existentes. "Aquela atividade combativa do pós-25 de Abril não era enaltecida, apesar de fazer parte da nossa história. Aqueles resquícios das pinturas refletiam o tratamento que lhes era dado, como se esse sonho e essa utopia tivessem sido completamente esquecidos. A publicidade a ir para cima dos murais, e depois o graffiti, e a cidade a tentar limpar isso... Se escavarmos todas essas camadas sobrepostas quase conseguimos ver a história daquele lugar", nota Alexandre. "As paredes refletem a contemporaneidade; a velocidade com que essas camadas estão a fazer essa construção sempre me cativou, e interessa-me perceber como conseguir tirar da cidade uma impressão daquilo que se vive", acrescenta. Uma ideia que se aplica a Lisboa ou ao Porto, a Londres, Paris ou Xangai, cidades em cujas paredes já trabalhou. "Passar do local para o global ainda dá mais sentido ao trabalho que executo. A margem sul deu-me uma visão que depois é adaptável a qualquer espaço do mundo. A globalização, de alguma maneira, disseminou um modelo de desenvolvimento urbano, económico e social. Quando se leva este tipo de trabalho para outros pontos do mundo é uma reflexão sobre isso mesmo: a velocidade a que o desenvolvimento evolui. E depois disto ninguém sabe o que vai acontecer, todos caminhamos sem saber o que vem aí, nem aonde estamos a querer chegar." (VISÃO)

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