Lugares estéreis
Junto à torre de Sete Rios, Alexandre Farto há de subir, uma vez mais, na grua, para ser entrevistado pela jornalista da equipa de televisão alemã. Na noite seguinte chegará a Aveiro e aí deixará um rosto esculpido na Estação Ferroviária, três dias depois participará nas conferências TEDXAveiro e, a seguir, voltará a Lisboa, para, noite dentro, "marcar uma parede", na Avenida Calouste Gulbenkian, onde, depois, irá cravar mais um rosto na cidade. A agenda de Alexandre quase não tem espaços em branco ("acalmar é uma coisa que não existe hoje no meu vocabulário"), sobretudo em época de exposições. Mas é o trabalho na rua que mais o motiva, ou não viesse ele do mundo do graffiti - assume-se, aliás, como um dos seus grandes defensores. "O graffiti foi a minha escola, deu-me o ato de intervir no espaço público. Tem um potencial enorme como dinamizador cultural e como potenciador criativo, mas há um dinamismo que se destrói pela forma como é visto. O problema não é a maneira como o graffiti existe na cidade, é mais como a cidade trata o graffiti. Sempre foi visto como um intruso, como algo que deve ser limpo e combatido, quando, na realidade, faz parte dela. Pode revitalizar o lado visual de um lugar e pode, também, pôr o dedo nas feridas da cidade, chamar a atenção para os prédios devolutos, as zonas degradadas e esquecidas", defende. Contra um "espaço acetinado e cinzento em que o único ponto de cor seria a publicidade que nos vai ao bolso ou a sinalética da cidade", Alexandre intervém como sabe. Sem isso, acredita, chegaríamos "ao puro funcionalismo da cidade, quando, pelo contrário, a cidade é um sítio onde as pessoas querem viver e onde querem sentir uma identidade". E observa: "Quando não há intervenção das pessoas no espaço público, os lugares tornam-se estéreis. O espaço público deixou de ser visto como espaço de interação, de comunicação, de discussão, de enriquecimento, de diálogo." (VISÃO)
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