segunda-feira, julho 27, 2009

CORRUPÇÃO EM PORTUGAL (6)


Revista OPS , José Carlos Guinote escreve sobre Corrupção e Urbanismo , cito :

« Nenhuma reflexão sobre a ligação entre a corrupção e o urbanismo poderá ser feita sem nos debruçarmos sobre os mecanismos de geração das mais-valias simples e da sua captura e sobre os comportamentos dos agentes promotores das mudanças necessárias para elas se concretizarem. (...)

No âmbito das suas competências constitucionais em matéria de urbanismo, o Estado toma decisões, sobretudo associadas à classificação e consequente mudança de uso dos solos, que permitem uma valorização brutal dos terrenos por elas abrangidos. Estamos a falar de solos rústicos que são classificados como urbanos sofrendo valorizações de centenas de vezes ou mesmo milhares de vezes o seu valor inicial. É essa valorização que estimula, como já escrevi, “a cada vez maior pressão dos usos urbanos sobre os terrenos rústicos e, em consequência, a pressão dos promotores sobre aqueles que, na Administração, têm o poder para decidir as indispensáveis mudanças de uso. (…)”. (1)

Os agentes das mudanças de uso do solo e os seus comportamentos não podem ser ignorados, em particular os agentes catalizadores e os agentes permissivos. Entre os primeiros identifico aqueles que mais lucram com a especulação imobiliária e a transformação dos terrenos rústicos em terrenos urbanizáveis. É o caso dos bancos, das grandes empresas imobiliárias, dos fundos de investimento, das seguradoras e de instituições dotadas de grande capacidade financeira. A sua capacidade financeira e uma aguda consciência do valor das mais-valias em jogo permitem-lhes actuar a médio e longo prazo pressionando tenaz e demoradamente as decisões da Administração.

Quanto aos agentes permissivos, eles são sobretudo as autarquias e os governos. Quem é que nunca escutou as declarações entusiásticas dos autarcas abrangidos pelos chamados investimentos estruturantes?

Tomam a peito a sua função de agentes permissivos e clamam alto e bom som que o desenvolvimento, seja lá isso o que for, pode estar em causa se os processos não avançarem. Na última legislatura viram os seus clamores compensados com a criação dos famigerados PIN (Projectos de Interesse Nacional).

A propósito, a crise financeira internacional veio ou não mostrar como não passa de uma miragem um modelo de desenvolvimento local apoiado na promoção imobiliária elitista e nesse tipo de desregulamentação das regras do urbanismo?

Os PIN são, apenas e só, o reconhecimento de que o país tem duas políticas urbanísticas para a mesma parte do território: uma para os cidadãos comuns, arrogantemente implacável e restritiva para a mais comezinha melhoria das condições de habitabilidade, e outra para os promotores dotados de elevada capacidade financeira, que permite a ultrapassagem de todas as restrições impostas pelas políticas públicas de conservação da natureza ou pela simples legislação urbanística, tout court.

Da mesma forma, não existe a mais pequena hipótese de se travar a forte relação entre urbanismo e corrupção na sociedade portuguesa se não promovermos as mudanças necessárias no sentido da socialização das mais-valias urbanísticas geradas pelo processo de desenvolvimento urbano (...)

O nosso modelo de desenvolvimento urbano continuará a ser dominado pelos interesses dos promotores privados, que encaram a cidade como um negócio e os cidadãos apenas e só como consumidores. (...)

Continuaremos a ter, a par de uma segregação espacial das populações organizada segundo a sua capacidade financeira, – a expulsão de 300 mil habitantes de Lisboa para a periferia em menos de 30 anos é disso o mais radical testemunho – mais de 700 mil famílias a viverem em condições de alojamento verdadeiramente indignas e um crescente endividamento dos portugueses por força da única forma de acesso à habitação de que dispõem: a sua aquisição com recurso a crédito bancário. (...)

A socialização das mais-valias é pois o elemento central da mudança política a levar a cabo para desatar o nó que liga actualmente a corrupção ao urbanismo, garantindo ao mesmo tempo um melhor ordenamento do território e uma vida urbana mais justa, mais democrática, mais plural, com cidades mais humanizadas. (...) »

11 comentários:

ex-militante disse...

Ah pois é. Mas este tipo de socialização do solo os camaradas não o querem, querem é dar umas migalhas a uns, o jackpot a outros e a fava da protecção ambiental a outros, de preferência ao lado dos que ganharam o jackpot de urbanizar que é para as suas urbanizações terem espaços verdes.
No Seixal consta que aquela alameda que vai do rio à biblioteca foi em tempos partilhada por gente ligada à Câmara para um dia se erguerem imponentes prédios de um lado e do outro por isso , quanto aquela zona mais se valorizar melhor. Em breve e a dois passos até vão ter um paço de luxo.

Anónimo disse...

Na margem sul o PCP não podia ter feito melhor se em vez da CDU no poder tivesse estado, desde o 25 de Abril à frente das autarquias desta banda uma gestão de construtores civis. Estariamos até melhor porque não haveria partidos a engordar.Assim foi um fartar vilanagem para os interesses do PCP e para os construtores dedicados ultimamente a condominios fechados para ricos.

XPTO disse...

Jerónimo de Sousa está sempre a esbracejar contra os lucros dos bancos, mas este artigo mostra bem como eles se conseguem, à custa de autarquias Comunistas e de todas as outras cores , mas também Comunistas . Hipócritas!

Anónimo disse...

Este é o espelho dos "politicos, autarcas e outros funcionários publicos" que roubam que se farta, por isso a situação miserável na Saúde, Ensino, Assistência Social, Desemprego, etc...que grassa pelo País....como ainda por cima são depois encobertos pelo poder judicial...temos o diagnóstico da situação do País...

Funcionário autárquico na parteleira disse...

Sem comentários de grande monta, pois todos estes casos , já se pronunciam ,tao banais...Apenas uma lembramça! Em França, por actos semelhantes, a Justiça deteu, o ministro Bernard Tapie, o filho , do defunto Framçois Mitterrand, e, o grande patrao da maior petrolifera framcesa...entre ,muiots mais...!!! Em Portugal, o problema apenas reside no seu sistema...

Amacord disse...

PORQUE ESTÁ ISALTINO A SER JULGADO ?

Isaltino Morais obteve entre 1993 e 2002, período em que foi presidente da Câmara de Oeiras e ministro das Cidades no Governo de Durão Barroso, um rendimento líquido total de quase 352 mil euros, mas, no mesmo período temporal, depositou "em numerário" um total de 1,38 milhões de euros, nos bancos UBS, na Suíça, e KBC Bank Brussel, na Bélgica, e em contas tituladas por Paula Nunes, por intermédio desta funcionária da Câmara de Oeiras, no banco Internacional de Crédito (BIC). Em dez anos, o autarca de Oeiras, que é arguido num processo relacionado com esta situação, fez depósitos bancários num montante cerca de quatro vezes superior ao seu rendimento líquido total.

A partir destes dados, o despacho do juiz deixa claro que "Isaltino Morais utilizou o seu cargo de presidente da Câmara de Oeiras para a prossecução dos seus interesses particulares, querendo obter vantagens patrimoniais à custa do poder que tinha em proferir decisões, no âmbito de processos relacionados com questões de urbanismo e construção imobiliária, em clara violação dos deveres inerentes ao seu cargo".

Para o juiz, "ao depositar as quantias em dinheiro e os valores que solicitava e aceitava em contas próprias, de pessoas de sua confiança, familiares ou amigos", Isaltino Morais "quis e logrou ocultar a origem de dimensão das vantagens patrimoniais por si recebidas, uma vez que os rendimentos auferidos enquanto titular de um cargo político, no exercício das suas funções de presidente da Câmara de Oeiras, e o resultante das suas aplicações financeiras, não eram compatíveis com a posse daquelas quantias".

Em resultado desta apreciação, Isaltino Morais terá de ir a julgamento responder pelos crimes de participação económica em negócio, corrupção passiva em acto ilícito, branqueamento de capitais, abuso de poder e fraude fiscal.

Anónimo disse...

Se existisse autoridade, este indivíduo e outros não estariam ao serviço de autarquia ou qualquer serviço público até o assunto ser averiguado! Mas os portugueses parecem masoquistas, até os legitimam com mais mandatos! Encontrar um autarca com “mãos limpas” será como encontrar agulha em palheiro! Que venham investigar a Rive Gauche porque também é Portugal!...

J.Lobato disse...

e depois aparecem estes senhores na tv com cara de santinhos, mas eu pergunto para quando uma lei emque quando haja suspeitas sobre qualquer pessoa, com cargos politicos ou autarquicos,seja suspenso ate terminarem as investigaçoes. isto tem de acabar o povo anda farto de ver ler e ouvir as noticias o dia a dia sobre corrupçao e nada acontece a estes senhores porra.

Anónimo disse...

Esta Câmara de Almada é mesmo uma "República das Bananas", fazem o que querem e não dão "cavaco" a ninguém. Espero bem que vão todos para o "olho da rua" no dia 11 de Outubro. Aquilo que conseguiram fazer da cidade de Almada, foi estragar o que esta tinha de bonito. Agora é ver aquela "lombriga" (MST) passar, quase sempre com poucos passageiros e pága "zé povinho".
Querem que as pessoas andem de metro à força, abrigos nas paragens dos TST, não há!!! Ela e a sua trupe que andem na lombriga.
A ECALMA é outra empresa que foi criada para lhes encher os bolsos. É uma vergonha, ainda a pessoa não tem parado a viatura, aparecem logo aqueles parvalhões, a maioria com carinha de quem ainda agora largou o biberon. Um dia destes houve um, que por pouco, não levou um soco meu. Para a próxima não sei se me contenho!!!

Anónimo disse...

Ganância, sede de poder, falta de escrupulos, falta de cultura, ignorância. Tem tudo a ver com isto.

Lampião disse...

Falta falar em mais uma coisa, os clubes de futebol, por exemplo o negócio Câmara do Seixal - Sport Lisboa e Benfica.