Gerês, Vidago, Caramulo, Luso, Serra de São Mamede, Monchique, Marão, Serra da Estrela... Ficaríamos um dia inteiro a falar destes e de outros locais que bem poderiam tornar Portugal num autêntico roteiro da água. Ainda assim, a água é um componente tão básico da nossa alimentação que, na maioria dos dias, nos esquecemos dela.
As recomendações existentes para a ingestão diária de água (2l e 2,5l para mulheres e homens, respectivamente) parecem, à primeira vista, inatingíveis, desmotivando-nos para o seu consumo - “se não consigo beber isso tudo, nem vale a pena tentar”. Esqueçamos as recomendações e foquemos a nossa atenção na criação de estímulos que nos permitam beber mais água do que actualmente. Um bom exemplo é a recente moda de ingerir um ou vários copos de água em jejum. Quente, fria, morna, com um dente de alho, com gotas de laranja e limão, de tudo se apregoa com vista a “desintoxicar” o nosso organismo ou a fazer uma “activação geral” do mesmo.
Independentemente do que adicionar, o importante é que pura e simplesmente beba água porque durante o sono ocorrem perdas hídricas significativas pela respiração e, ao acordar, mais do que pedir que o “desintoxique”, o organismo pede que o hidrate. Deste modo, a ingestão de água logo pela manhã deve ser tornada uma rotina tal como é o duche e o pequeno-almoço. Uma outra rotina matinal fundamental para a monitorização do seu estado de hidratação é a vigilância da cor da urina, que deve ser o mais próxima possível da “cor” da própria água (ou seja, incolor ou transparente). Para que tal ocorra, a ingestão de alimentos ricos em água - como fruta e legumes, sopas, ensopados e arrozadas - ajuda, mas não é suficiente. Temos de encarar a água da mesma maneira que o telemóvel ou a carteira, sem os quais nos sentimos “despidos” quando nos esquecemos deles em casa. No carro, na secretária ou na carteira, a água tem de estar lá para criarmos mais um estímulo à sua ingestão.
Pode parecer um pormenor insignificante, mas muitos dos “mini-problemas” que nos dificultam o dia de trabalho não são mais do que sintomas de desidratação. Se pensarmos que, apesar de ocupar apenas 2% do nosso peso corporal, o cérebro recebe 20% do nosso fluxo sanguíneo, constatamos que uma diminuição desse fluxo (como acontece quando estamos desidratados) o deixa a funcionar a “meio-gás” e como tal as dores de cabeça, o cansaço e as dificuldades de concentração podem ser simplesmente resolvidos com um (ou vários) copo(s) de água à nossa frente.
Portugal tem um cardápio fantástico quando falamos em água, sendo a nossa riqueza hidromineral reconhecida historicamente. Muitas vezes só lhe damos o devido valor quando cruzamos a fronteira e desde logo sentimos que aquela não é a “nossa” água. Por isso, “faça as pazes” com a água e passe mais tempo com ela durante o dia.
*Assistente Convidado da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto pedrocarvalho@fcna.up.pt
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